Não deixe a “tecniquês” ficar no caminho da sua inovação

Você é um entusiasta da inovação ou da tecnologia? Se achou a pergunta estranha, redundante ou sem sentido, esse conteúdo é para você.

A verdade é que essa associação é mais comum do que parece, o que a torna problemática quando uma coisa se confunde com a outra, criando uma falsa percepção de que é impossível inovar sem tecnologia ou que o próprio objetivo da inovação é a implantação de uma tecnologia em si. Não temos dúvidas que a tecnologia é uma grande aliada para alcançar excelentes resultados em qualquer que seja o empreendimento ou projeto. Contudo, ser uma das maiores aliadas não significa, obrigatoriamente, ser a única ou a melhor delas.

Em um processo de inovação, é fundamental estar desapaixonado e aberto a ideias e possibilidades que envolvam outras ações, não necessariamente tecnológicas, que em muitos casos são até mais simples e mais baratas de utilizar. Deve-se ter em mente que, quando se inova, o propósito não é a modernização, e que esses termos, inovação e modernização, de forma muito comum, não são intercambiáveis ou ligados, pois são muitas as ações de modernização que não geram inovação e muitas são as iniciativas de inovação que não implantam as últimas evoluções, tendências ou tecnologias. Como isso é possível? Simples! Porque, inovar não é aplicar tecnologia, mas resolver um problema! E quantos são os problemas! E quantos são as possiblidades e caminhos para a sua resolução!


Henry Ford, por exemplo, criou um gigante empresarial em 1903 quando inventou a primeira linha de produção em massa de automóveis. A sua inovação promoveu o estabelecimento de várias indústrias e se constituiu num símbolo da produção industrial no século 20. Outra ideia que se tornou uma grande inovação ocorreu em 1950 quando Frank McNamara estava num restaurante e percebeu que não tinha dinheiro para pagar a conta. Ele teve, então, a ideia de criar o Diners Club Card, o primeiro cartão de crédito do mundo. O Post-it, um produto muito inovador inventado em 1970, se consagrou como uma ferramenta muito útil e uma máquina de fazer dinheiro para a 3M até hoje. Esses três casos demonstram inovações muito bem sucedidas (e brilhantes) de ideias criadas para resolver problemas.

Independente do motivo que se tenha para inovar, ele não é a implantação de uma ou outra tecnologia, mas a resolução de um ou outro problema, da forma mais criativa, inteligente e econômica possível. Parece óbvio na teoria, mas na prática esse conceito se mostra relutante. Lembro certa vez do rosto de decepção de um cliente quando soube que tínhamos solucionado o problema de produtividade de sua empresa sem a aplicação de nenhuma tecnologia, só inovando a forma e o processo de produção. Talvez você ache estranho alguém que trabalhe com o mundo digital dizer isso, mas a verdade é que temos que separar ao máximo a solução da paixão. Não trata-se de um jogo de retórica, mas de deixar todas as possiblidades de resolução disponíveis para que a melhor forma de solucionar um problema apareça e, às vezes, pasme!, ela não envolve tecnologia. E por que isso é tão importante? Para evitar que o anseio pela tecnologia sobrepõe a ação de inovação, o que irá fadar o projeto ao fracasso.

Desta forma, para que se obtenha os melhores resultados possíveis, é fundamental separar esses dois pontos, ou seja, que o foco em tecnologia não atrapalhe a inovação e que, por outro lado, a busca pela inovação não ofusque as situações em que ela não seja necessária. Como sugestão para diagnosticar a correta circunstância e aplicação, proponho seguir os 5 passos abaixo:


1) Tenha claro qual o problema que precisa ou deseja resolver ou ainda o objetivo que precisa alcançar.

Este é o principal passo! Busque com afinco e dedicação qual o principal problema que precisa ser resolvido. Einstein certa vez disse! “Se eu tivesse uma hora pra resolver um problema e minha vida dependesse dessa solução, eu passaria 55 minutos definindo a pergunta certa a se fazer”. Com isso, que futuro precisa ser criado para que o presente, mais cedo ou mais tarde, não sucumba no futuro?
Existem muitos equívocos sobre inovação, talvez o mais comum seja que é tudo sobre ideias. Sim, toda inovação começa como uma ideia, mas mais importante, a ideia deve ser precedida por um problema muito interessante.
Por quê? Porque há muitas ideias à procura de um problema para resolver, há muitas ideias precisando de validação. Isso resulta em muito desperdício de tempo, recursos e falhas.
Por isso eu costumo dizer: Não procure uma boa ideia, procure um bom problema, pois dessa forma será mais fácil descobrir um caminho a seguir.
Algumas perguntas que podem ser úteis:

• Os clientes estão comprando menos?
• Aumentaram as reclamações sobre algo específico?
• Observa alguma frustação no cliente?
• Seu concorrente está mais produtivo e eficiente?
• Perdeu marketshare?
• Seu público-alvo está super encantando com seu competidor?

2) Identifique o melhor caminho

Com o problema “em mãos”, fica mais fácil identificar se o caminho de resolução irá ser através de uma jornada de inovação, de modernização ou ambos. A inovação é exigida quando a solução ainda não existe e precisa ser criada ou, mesmo que exista, não se aplica as suas especificações e particularidades. Em alguns casos, a inovação exigirá o desenvolvimento de alguma tecnologia. O processo de modernização, por outro lado, é a aplicação de um produto, tecnologia ou solução existente no mercado, criado por alguém que passou pelo mesmo problema, mas o resolveu com sucesso.
Para identificar se você precisa de uma inovação ou modernização, sugiro as seguintes perguntas como forma de clarificar o caminho:

• Esse é um problema exclusivo seu ou outros empreendimentos ou equipes o possuem (mesmo que não saibam disso)?
• Se sim, como esses outros empreendimentos ou equipes resolveram esse problema?
• Existe uma solução que se propõe a resolver esse problema, que seja consolidada e disponível no mercado?
• Se existir, essa solução já está sendo utilizada por você ou sua equipe?
• Se não, como você avalia essa solução? Ela é aplicável ao seu contexto, orçamento e particularidade?

3) Se for uma modernização, prepare o “terreno”

Caso identifique que a resolução do seu problema pode ser resolvido com uma modernização de maquinário, sistema ou tecnologia, tenha em mente que toda modernização exige ações de alicerce que devem ser precedidas a modernização propriamente dita e que durante o processo de atualização, diversos trabalhos paralelos e conjuntos precisam ser feitos pois, devemos lembrar, a tecnologia é uma ferramenta, um meio para se alcançar algo e não o fim por si mesma, logo, como ferramenta, ela pode ser muito bem utilizada, pouco utilizada ou até mesmo má utilizada. Lembre-se que tecnologia não é bala de prata e não faz milagre. Se um processo for ruim, a tecnologia não irá resolver o processo, mas permitirá produzir mais e mais rápido o produto errado. Se os registros (informações) estiverem errados, a tecnologia não irá corrigi-los, mas produzirá relatórios inúteis mais belos e incrementados. Por fim, se não souber para onde está indo, com ela o máximo que conseguirá é ir ao lugar errado, de forma mais rápida.

4) Se for inovação, avalie a forma necessária

Nem todas as inovações são iguais e as formas de fazê-las variam muito em tempo, risco e investimento. A boa notícia é que, com um problema bem claro, as possibilidades podem ser reduzidas a três casos:
a) Existem métodos, estratégias e consultorias que podem nos conduzir na formulação sistemática da resolução do problema
b) Não existem formas sistemáticas para encontra uma solução para esse problema, no máximo ferramentas e técnicas para auxiliar a produção, encaminhamento e teste de ideias. Aparentemente, é um processo muito baseado em criatividade.
c) Não conseguimos responder os dois pontos acima. Na verdade, não temos a mínima ideia de como resolvê-lo, muito menos qual seria a especialidade técnica ou tipo de indústria mais indicada para isso.

A primeira opção é a mais segura, rápida e previsível de alcançar resultados, podendo ser possível, inclusive, definir de antemão um prazo e um orçamento para o processo de inovação. A Reengenharia Digital se enquadra nessa categoria.
A opção “B” é imprevisível, já que não é possível planejá-la. Em alguns casos, a solução pode surgir em poucas semanas, enquanto em outros o projeto é abortado antes de obter algum resultado, por falta de paciência, dinheiro ou mudança de prioridade. Além disso, essa forma de inovação exige características e cultura especificas da empresa, como tolerância a erros, cultura de testes e abertura para ideias “fora da caixa” e não validadas.
A última opção, conhecida como inovação radical, é a mais arriscada e imprevisível de todas. Na tentativa de alcançar algum resultado, normalmente é utilizado a estratégia de “bombardeiro aéreo pesado”, ou seja, não sabendo exatamente onde está o inimigo, atira-se para todos os lados, com todas as munições possíveis, na esperança de atingir o alvo. Como isso não é possível a todos, devido ao seu alto investimento, as plataformas de inovação abertas se tornam uma boa e acessível fonte para esse tipo de inovação.

5) Avalie sua capacidade de inovação

Com a identificação do tipo correto de inovação, é possível ajuizar se o seu negócio ou equipe possuem as capacidades culturais, técnicas e financeiras para conduzir a inovação.
A primeira opção é a mais acessível pois, retirando a questão financeira, se aplica a todo tipo de empreendimento, já que não exige cultura específica e capacidade técnica prévia. Pesquise e avalie as possíveis e melhores estratégias para o seu caso.
Avalie seriamente os ganhos financeiros e as prioridades antes de iniciar um processo de inovação do tipo B. Como sugestão, faça pequenas ações com metas claras e especificas de prazo e obtenção de resultado e avalie, após essas primeiras ações, se novas incursões possuem promissoras chances de obter retorno.
Por fim, para a terceira opção, avalie plataformas de inovação aberta, possíveis hubs de inovação, programas de hackatons abertos e ambientes que permitam relacionamento com startups e universidades como forma de gerar alternativas e sinergias externas com as equipes internas.

Conclusão

Com o foco e o mindset correto, as chances de inovar e solucionar os seus problemas serão enormes, pois aberto a possibilidades, é mais fácil enxergar com clareza o problema a ser resolvido e o melhor caminho a trilhar para a sua resolução. Conte comigo e sucesso!