Por concepção, uma startup é um grupo de pessoas em busca de um modelo de negócio em condição de incerteza. Dito de outra forma, não se pode afirmar se a ideia inicial realmente dará certo, além de que não se sabe, também, qual será o modelo de negócio que transformará o trabalho em dinheiro. É até comum, inclusive, que a empresa remanescente de uma startup seja uma vaga lembrança do que era a ideia inicial ou o esboço do modelo de negócio imaginado.
Uma empresa tradicional, por outro lado, difere totalmente de uma startup. Ela já possui um modelo de negócio comprovado, que já é responsável por transformar o seu trabalho em riqueza. O foco desse tipo de empresa não está em buscar um modelo de negócio, no máximo, aprimorá-lo constantemente a fim de otimizar seus resultados, melhorando a sua qualidade, atendimento, reduzindo seus custos e proporcionando crescimento.
Uma startup precisa ter uma cultura baseada em experimentação, a fim de descobrir seu real propósito e a forma como pode contribuir com o mercado. Ela faz constantes testes, inovações, provas de produtos, modelos, métodos e tecnologias. Além do mais, não raro, pela novidade do seu modelo, a sustentabilidade financeira é posta inicialmente de lado em busca de um crescimento exagerado, exigindo uma agilidade e uma informalidade não aplicáveis em ambientes tradicionais. Nesse tipo de ambiente, hierarquias, aprovações, estudos e ferramentas de gestão, como orçamentos, são simplificados ao extremo em prol de sua escalabilidade.
Uma empresa tradicional, por outro lado, tem uma cultura pautada em controle de qualidade e entrega de resultado. A qualidade advém de seguir um padrão, por intermédio de processos e procedimentos previamente desenhados na camada de operação. Esse modelo labora sob uma hierarquia funcional que vai da operação, que é responsável por gerar o resultado seguindo o padrão e reportando anomalias, passando por gerência, cuja missão é a correção das anomalias, até o nível estratégico, responsável por definir os objetivos, políticas e diretivas.
As pessoas que trabalham nesse “sistema padrão” (operação), executando suas rotinas de vender, comprar, pagar, receber, transferir, atender, conciliar etc., têm seus resultados instigados e, ao mesmo tempo, medidos por metas pessoais e de grupo, para determinado período (mensal, trimestral, anual etc.). Seu foco está em gerar o maior resultado possível, atendendo à qualidade determinada (o padrão), ou seja, respeitando as diretrizes, políticas, processos e procedimentos da empresa. Os clientes se beneficiam dessa “rigidez” quando recebem um produto ou serviço de qualidade de forma previsível no decorrer dos anos, independentemente dos locais de contato.
No contexto de uma empresa tradicional, alterar ou modificar o “sistema padrão” é um risco e uma oportunidade, ao mesmo tempo. O risco, decorrente da mudança, é causar instabilidade no “motor” de resultados da empresa, como improdutividade, baixa qualidade e incerteza nas pessoas que o executam. Toda modificação na forma de fazer, seja procedimentos ou processos, gera a necessidade de treinamentos, orientações, testes, validações, novas integrações e, inevitavelmente, problemas temporários com o produto ou serviço final.
Os colaboradores são os principais afetados e, muitas vezes, se sentem inseguros sobre a sua capacidade de aprender um novo procedimento para aquilo que há anos já estão acostumados a fazer. Será que conseguirei aprender a nova ferramenta, o novo sistema, me adequar ao novo procedimento? Serei tão rápido, eficiente e produtivo como antes? Será que ainda serei útil? Será que me substituirão já que não mais precisarei utilizar todos os conhecimentos que obtive todo esse tempo à custa de tanto esforço? Essas são indagações deles.
Por isso é tão importante, sempre que possível, “mexer” o mínimo possível no “sistema padrão” do negócio. Toda mudança deve ser pensada, defendida e aprovada, antes de ser desenvolvida e implantada. Diferente de uma startup, que nasce com a missão de testar e experimentar todo o seu modelo e seus produtos para encontrar um negócio lucrativo, a empresa tradicional já possui o seu.
A forma de aplicar inovação difere. No caso das empresas tradicionais, a forma de aplicar mudança está mais alinhada a manter e preservar o modelo do que destruí-lo e renová-lo, como nas startups. Grande parte do foco e energia são voltados para manter o “sistema de padronização”, o “motor” da empresa, em plena execução, em máxima produtividade, mas conservando o seu padrão, ou seja, entregando a qualidade a qual o sistema foi desenhado para entregar.
Como seria bom (ou não) se, uma vez desenhado e implantado o “motor” de resultado da empresa, ela se mantivesse com o mesmo desempenho ou sempre melhor, meses após meses, anos após anos, mas isso não acontece. Ajustes e adaptações são sempre necessários para se adequar as mudanças internas e externas do ambiente.
Os clientes mudam, os concorrentes também. As regras de mercado mudam, as legislações mudam, as pessoas mudam, enfim, tudo está em constante mudança e isso interfere no desempenho do sistema. O pior é que essas mudanças são cada vez mais necessárias e intensas, ocorrendo em ciclos cada vez mais curtos.
Hoje, a mudança constante dos agentes de mercado força as empresas a implementarem, regularmente, alterações em seu sistema e o desafio é fazê-lo sem impactar negativamente o seu desempenho ou, em último caso, sem destruí-lo.
Para isso, usualmente, as mudanças em empresas maduras ocorrem em instâncias diferentes do operacional, ficando a cargo de um grupo de pessoas (em um projeto de inovação), comandado habitualmente por um gestor de melhorias ou de projetos, o encalço de aperfeiçoar e evoluir o “motor” da empresa. Esses projetos buscam a melhoria contínua, um incremento de desempenho; por isso são estudados, orçados e largamente discutidos para serem aprovados, pois o seu objetivo não é sobreviver “ao léu”, mas serem incorporados futuramente no “sistema padrão”.
Por isso, investir no escuro, modificar-se radicalmente, algo tão normal para startups e investidores de risco, não ecoa muito bem em empresas tradicionais e aí encontra-se o grande desafio de inovação, que diferencia tanto as startups das empresas maduras.